segunda-feira, 25 de abril de 2016

Não só hoje

Tem coisas na vida que a gente não espera
Como correr, sem querer, em direção a uma velha história
E fazê-la nova, gostosa, agradável
Como uma bonita manhã de domingo
Ou um pôr do sol ímpar depois de uma tarde singular.
Tem coisas na vida que a gente só espera
Que não demorem a começar e que se esqueçam de acabar
Como o tempo, quando perto
Como aquela música só nossa
Ou aquele olhar profundo
Depois de uma noite extremamente boa.
Tem coisas na vida que a gente nunca espera
Que possam vir à tona tão naturalmente
Tão intensamente.
Assim, os segredos se vão, os desejos aparecem
E a gente, em realidade, transforma tudo.
É como se não existisse outra forma de amor no mundo,
Que eu saiba mais.
Pois hoje, não só hoje,
Eu quero mesmo é saber,
Lembrar, tocar, amar, viver
Você.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Anúncio bem-intencionado

Procura-se alguém que não seja sempre o mesmo
Nem me queira encontrar a mesma sempre.
É preferível, portanto,  aquele que entenda de mudanças
De ideia, de trabalho, de cidade, de amigos e, principalmente,
De humor
E que mude-me também.
Gostaria que viesse mais maduro do que verde,
Mas que tenha sempre algo a aprender
E muito ainda a me ensinar
(lê-se: surpreender).
Seria bom se fosse alguém interessante
Como eu bem finjo ser
E que saiba falar da vida,
Principalmente da própria vida,
Sem se gabar ou precisar lembrar do que passou e ficou e terminou e fim.
Alguém que siga seu coração ao invés de seguir o que esperam dele,
E que me dê uma parte pra cuidar
Pra então eu confiar pra cuidar também do meu.
Precisa-se de alguém pra dar bons beijos
Do começo ao fim e de cima pra baixo, na mão e no queixo.
Poxa, no queixo... Que boa lembrança!
Calma, que até me perdi,
Mas, enfim, guarde aí,
No bolso do jeans rasgado ou da camisa sem estampa
Meu anúncio bem-intencionado.


Aquela mesma abelha, aqueles tantos medos

Há tanto medo,
Tanto medo dentro deste coração
Que o peito chega a ser pouco
E o espaço é tão miúdo
Que nem sei como guardo os medos que estão lá fora,
Além das grades da janela,
Dos vidros do carro,
Da esquina escura,
Do passado, enfim,
Como vivo, como movo
Os pés do chão, as palavras da boca,
O ar do pulmão.
As pernas precisam ir,
Algo precisa mudar,
Talvez seja a imagem refletida no seu espelho
Ou aquela que criou e colou com expectativa
No mural do que queria ser no seu futuro.
Já disse que aqui não dá pra ficar,
Mas o medo não deixa sair
Nem deixa ver que, mesmo a passos de tartaruga,
Já começou sua transformação de larva
Pra, com sorte, borboleta,
Ou quem sabe, só a mesma abelha
Que esteja mudando
Pra melhor.