segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Ainda bem que ouço só por um

Você é muito grande pra essa cidade.
Você é muito baixinha pra ser uma professora de respeito.
Vamos comprar uma casa? Um carro? Viajar pra Argentina?
Não estou feliz. Já mudei minha foto de perfil.
Você fala Inglês? Nossa...
Inglês? Quer matéria mais inútil? 
Seu sorriso é lindo.
(Visualizado há 1h)
Quanto você mede?
Minha irmã é mais alta que você.
Você fez UFSCar e curso na USP? Tem mestrado?
Professora, posso tomar água?
Morou em São Carlos quanto tempo?
Ainda mora com seus pais?
Você é chatinha. 
Deborah, você é chatinha, viu?
Ano novo? Estou pensando mesmo é no carnaval.
Passa em casa, querida. Conta comigo.
Você só mandou e-mail e não ligou pros pais?
2h? Ficou mais do que os outros?
Que saudade de você.
Teacher, não fiz tarefa porque tinha prova.
Ela te odeia, fica quieto.
Eu comprei um relógio novo. Viu meu carro também?
Fala pra Deborah dar dinheiro.
E você é de onde?
(Ontem)
É a "C".
Eu não colei, caralho. 
Avisa a Deborah que tem roupa pra por no varal.
Não vai lá em casa cedo na segunda porque ela vai estar dormindo.
Não tá dando pra ninguém?
Deve ser por isso.

Merda.
I listen to shit. All. The. Time.




quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Black Dog

Não estou feliz.
Reconheço.
Acho que esse é o primeiro passo pra deixar aquele Black Dog pra trás.
Nada acontece.
Não sei pelo quê lutar.
Estou presa às minhas séries prediletas e ao aconchego da minha cama.
Às vezes aqui dentro acende uma faísca, que logo alguém apaga.
Alguém, eu.
É uma dor que não tem nome, essa aqui.
Uma vontade de me libertar não sei de quais correntes.
É frustrante.
Mas aí eu me esforço a ver o lado bom do dia.
Me esforço bastante.
Até que dá pra ver uma luz
E começo a torcer pra não apagar
Pra iluminar um minuto a mais que seja
Dessa infelicidade toda.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Temporariamente?

E, de repente, parece que seu coração perdeu
Temporariamente
A vontade
A saudade
A ilusão
O gosto
O desejo
O tesão
De amar.

A rede

A gente sempre tem alguma coisa que não superou bem na vida.
Tipo aquela frustração de não ter sido chamada pra ser madrinha do filho do seu único irmão,
Ou aquela de não saber dizer não pro pai quando ele sugere que siga tal caminho na carreira
Sendo que o queria mesmo era dar pulos mais altos
E só não tem, ou não sabe bem, de onde tirar impulso.
Tem ainda aquela chateação por ter entrado nas estatísticas das pessoas que levaram pé na bunda pelo facebook.
Ainda mais quando você sonhava em entrar nas estatísticas das pessoas mais jovens a serem bem sucedidas na sua profissão.
Pfffff, esses sonhos...
Aí depois você se vê naquela situação que só viveu com namoradinhos adolescentes de 16 anos
E não sabe como conseguiu parar ali.
Já não sabe também se está triste por isso
Ou por aquela dorzinha boba de ser excluída de um círculo de amigos
Quando não tá muito no clima e nem no status financeiro de sair sempre com eles
Aí você não consegue mais trabalhar direito, nem ler, nem fazer nada a não ser jogar aquele jogo do celular
Que tá te dando tendinite
E que só deve ser menos viciante que crack
Que, aliás, nunca irá usar pra provar sua teoria.
É, talvez você devesse mesmo ir à analista que te recomendaram.
Será que ela atende por rede social?

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Eles ou elas

Aí você acha que encontrou seu grande amigo
E é como crer em um grande amor.
Já diziam que o "pra sempre" sempre acaba,
Mas você insiste
E se frustra
E se lembra de que não é a primeira vez
E se conforma.
Partir pra outra nunca é fácil.
Numa revista li que é assim:
Você tem vários melhores amigos
Até porque nenhum é o melhor em tudo.
E por mais que tente ser assim pra alguém
Não é, nem nunca será.
Mas ainda assim sente falta
De gente que esteja também nos momentos ruins
Naquelas horas que nem você gosta de si,
Que são justamente aquelas que mais precisa de alguém pra gostar de você
E que não te dê só o telefone do analista.
Eles ou elas.
Vocês.
Eu.
É disso que sinto falta.
That's what's going on, what I miss, who I miss.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Pássaro

Sei bem que, como os pássaros,
Podemos voar pra qualquer direção
E construir nossos ninhos – passageiros, que sejam!
Na árvore que acharmos melhor.
Você é como um pássaro
Que vive a cantarolar a liberdade
E não sou eu a gaiola que te aprisionará
Ou a árvore que chamaria de ideal
Pra viver por mais de uma estação.
Você migrou pros meus braços
À procura de amor e carinho
E eu te dei minha vida e meus sonhos.
Chegou a hora de ir, eu sei,
Espero não ter significado apenas uma morada de verão
Pois pra mim você foi de um pássaro muito mais.
Não será, porém, seu canto
 A marca mais profunda deixada em minha madeira
Mente
Memória.
Um dia esquecerei os seus beijos
Mas não o seu olhar.
Seus olhos me ensinaram tudo
O que posso dizer que sei do amor.
Agradeço a sua visita aos meus galhos
Lamento ter sido rápida a sua estadia em minha vida.
Eterno ficará você dentro do meu peito
Tronco
Pensamento.
Voe, meu pássaro.
Eu ficarei aqui, esperando o inverno passar
E você voltar pra mim

Trazido pelos ventos do destino.

domingo, 26 de janeiro de 2014

É por domingos assim

É por domingos assim
Que eu quero viver minha vida.
Porque a semana pode ter sido ruim
A dor que achava que não sentia mais pode ter voltado
Os problemas podem não ter te deixado dormir
Mas aí vem o domingo
E você vai pra longe
E você não tem o dever de agradar ninguém
Não tem o dever de ser ideal pra alguém
Não tem o dever de fazer nada
E se joga
E grita
E se solta
Do que te prendia
E se vê livre
Se vê em cima
Está por cima
E não vai mais te deixar ir pra baixo
E respira
Desiste de ver sentido em tudo
Pra ver o sentido da vida.
E é por domingos assim
Que eu quero viver.


quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Pássaro II

O verão se aproxima mais uma vez
Raios quentes já procuram dominar a paisagem
Chegou o tempo do regresso ao lar...
Aquele que migrou fugindo do inverno
Deve estar procurando o caminho de volta
Mas a árvore onde deixou seu ninho já não é a mesma
Os ventos das estações frias foram fortes demais
Arrancaram seus galhos, não permitiram seus frutos
Sopraram para longe suas folhas, suas raízes cansaram-se de lutar
E ela já não sabe se pode servir de abrigo
Por mais uma estação.
Quem sabe ainda, o fugitivo
Já tenha feito outro ninho
Em galhos novos pra passar novo verão
E só queira da velha árvore um pouco mais de sombra
Um alívio que ela mesma já não pode se dar
O destino, porém, a obriga a esperar
Já que não pode correr em direção a ele
Seu espaço de chão é tudo o que possui
Além daquela esperança que por vezes a faz cega
De desejo pela volta daquele pássaro
Cujo único amor ela imagina continuar sendo o céu
A liberdade que busca ao bater suas asas
E que nunca vai se resumir a um simples tronco
Que um dia por ele de paixão tornou-se brasa
E ainda luta para cinzas não virar.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Na volta, o mesmo


Dizem que de cada viagem você volta outro
E eu viajei muito nessa vida
Muito menos do que eu queria
E muito mais do que alguém esperava
Já que imaginava que eu fosse outra
Mas outra já sou.
Agora sou de um, não sei mais ser de muitos.
E se não sou inteira, nem pedaço quero ser.
Se bem que pedaço já quis ter de uns outros por aí.
Mas metade não posso mais.
Menos que tudo é injusto oferecer.
Menos que tudo eu não quero nem saber
Nem ouvir falar
Nem ler, nem ver.
E agora eu só gosto de estar bem,
De ficar bem.
Agora eu só quero algo que seja bom,
Sempre bom.
Pra eu poder voltar de viagem
Trazer outra de mim na bagagem
Mas querer voltar pro mesmo.